SUPLEMENTO DA ATA DA 42ª SESSÃO, EM 16 DE JUNHO DE 1981
No início da Sessão, o Exmo Sr Ministro Alm. Esq OCTÁVIO JOSÉ SAMPAIO FERNANDES proferiu as seguintes palavras:
"Em nome de meu colega da Marinha, e no meu próprio, desejo manifestar nosso pesar pelo falecimento do Marechal do Ar EDUARDO GOMES, associando-nos às justas homenagens que lhe foram e estão sendo prestadas, não só pela Força Aérea como por toda a nação brasileira.
Idealista dos mais puros, quer profissionalmente quer como cidadão, digno entre os mais dignos, verdadeiro varão de Plutarco, democrata por convicção e não por conveniência, constituiu-se, sempre, para a nação brasileira, e não apenas para seus companheiros de farda, numa autêntica reserva moral com quem ela sempre contou em seus momentos de crise.
Desde nossa juventude sua figura simbolizou, para nós, O patriota, modelo de cidadão e soldado, sempre pronto a se sacrificar em defesa da liberdade e da democracia, mesmo com risco da própria vida, conforme os exemplos que legou, exemplos que, integrando nossa história, perdurarão como farol norteador das gerações que nos sucederem. Não o perdemos portanto; ele tão sómente deixou nossa convivência física pare imortalizar-se, como suas obras, permanecendo como inspiração para essas novas gerações, na tarefa diária da construção de uma grande e irmanada nação livre, como ele sempre a idealizou com seu espírito cristão e democrático.
Justa, pois, a homenagem que ora lhe prestamos como companheiros da Marinha e concidadãos, a qual solicitamos seja transcrita em Ata para constância nos anais desta Corte."
Com a palavra, a seguir, o Exmo Sr Ministro Dr JACY GUIMARÃES PINHEIRO, assim se externou:
Senhor Presidente, Senhores Ministros.
Segundo um pensador, o homem sábio e justo não parece, é.
EDUARDO GOMES, há pouco desaparecido, foi, é e será, para sempre, tais os seus méritos, reconhecidos por toda a Nação.
Com o seu passamento, por todos pranteado, passa, também, mais um dos valores ilustres, verdadeiro padrão de honradez e de acendrado amor cívico, de que tanto precisa a Pátria, principalmente nesses momentos, de transição e de tantas incompreensões, por parte daqueles, em cujas mãos, às vezes, se encontra a consciência do Estado.
Por isso mesmo, em nome dos meus pares e do meu próprio, associo-me às palavras dos que me antecederam, requerendo, também, na ata dos trabalhos de hoje, um voto de pesar pelo acontecimento que acaba de enlutar o país inteiro."
Em seguida, o Exmo Sr Ministro Gen Ex REYNALDO MELLO DE ALMEIDA proferiu as seguintes palavras:
''Senhor Presidente, Senhores Ministros
Tive oportunidade de apreciar o Brigadeiro Eduardo Gomes em alguns momentos bastantes significativos de sua vida. O primeiro deles, durante a Revolução Comunista de 1935, quando, servindo no Grupo Escola, que foi a primeira unidade a entrar em combate com os revoltosos da Escola de Aeronáutica, atiramos contra eles e, logo em seguida, acompanhados dos outros oficiais do Grupo, fomos de encontro aos que tinham resistido no Regimento de Aviação.
O Brigadeiro Eduardo Gomes estava ferido na mão. Sua calma, seu sangue frio, sua liderança inconteste impressionavam os jovens tenentes que o procuravam.
Era o chefe nato, que não queria socorros, antes que seus companheiros fossem atendidos.
Depois, senti a personalidade de Eduardo Gomes, quando servi no Forte de Copacabana; lá, eles guardam com muito carinho, com muito patriotismo e muito orgulho, o episódio dos 18 do Forte. E, o então tenente de Artilharia é seu heroi idealista.
Em seguida, estive com o Brigadeiro Eduardo Gomes no nordeste do país - em Recife e Natal.
Em situação extremamente difícil, quando a área era ocupada pelos americanos e ele era o responsável pela manutenção da nossa soberania nos campos de Ibura e de Natal.
Comprovamos o Homem Forte, de personalidade marcante, afirmando onde estivesse.
Finalmente, acompanhei o Brigadeiro Eduardo Gomes como político - candidato à Presidência por duas vezes.
Seu lançamento, num período de ditadura, foi feito pelo meu pai.
A este Chefe Nato, carismático, forte e bravo, ao político patriota, idealista e desprendido, desejo aqui homenagear, em nome dos companheiros do Exército, pedindo que as minhas palavras sejam transcritas na Ata e que se leve ao Ministro da Aeronáutica esta nossa manifestação de pesar."
Usando da palavra, a seguir, o Exmo Sr Dr MILTON MENEZES DA COSTA FILHO, PROCURADOR GERAL DA JUSTIÇA MILITAR, assim se manifestou:
"Senhor Presidente, Senhores Ministros:
O velho casarão do Catete, a velha Faculdade de Direito, do antigo Distrito Federal, tem, no seu pórtico, uma frase lapidar de Afrânio Peixoto:
"Quando se sente bater no peito heróica pancada, deixa-se a folha dobrada, enquanto se vai morrer".
Isso demonstra a face temporal, exclusivamente temporal, da nossa vida terrena.
EDUARDO GOMES dobrou a folha de sua vida eterna e com isso o Brasil perde um dos seus mais significativos heróis, que não precisaria morrer para ingressar na história porque ele era a história viva contemporânea de nosso País. Segundo uns, não tivesse a nossa Força Aérea já um patrono, o seria Eduardo Gomes.
Por duas vezes, o povo não quis fazer-lhe justiça, colocando-o à frente de seu Governo, mas, jamais, deixou de respeitá-lo, como um grande líder político e militar que sempre foi.
E falece ele, justamente, quando se comemorava o 50ª ano das primeiras linhas do C.A.N., que ele ajudou a fundar.
Por tudo isso, Senhor Presidente, rogo a V. Exa. que conste em Ata as palavras simples do Ministério Público, porém eivadas de total sinceridade."
Em seguida, o Exmo Sr Ministro Presidente, Tenente-Brigadeiro do Ar FABER CINTRA, proferiu as seguintes palavras:
"Na qualidade de Oficial da Aeronáutica mais antigo deste Tribunal, desejo agradecer às palavras pronunciadas pelos Ministros Dr Jacy G. Pinheiro, Almirante Sampaio Fernando, General Reynaldo Mello e o Procurador-Geral, Dr. Milton, que falaram em nome dos respectivos companheiros desta Casa, nas homenagens prestadas ao Brigadeiro EDUARDO GOMES, por motivo de seu falecimento.
Contemplados, serenamente, os 50 anos do Correio Aéreo Nacional, os homens que se irmanaram naquele ato de brasilidade aparecem, aos nossos olhos, em estatura de gigantes, traçando à Nação, um futuro com fé e grandeza,
Quem escreveu o Gênesis do Brasil, há de reconhecer, na licença do espaço infinito e aventuradamente misterioso, a grandeza, a coragem e o idealismo de Eduardo Gomes.
Homem resoluto, de trilhas abertas por audazes a desabusados aeroplanos.
Da orla oceânica, tomando mais tarde o rumo do oeste, bandeirante intrépido que integrou rincões, congregando o gentio deste País continente.
Com civilidade ímpar, como aeronauta de escol alçou, também, vôos, em diversificados horizontes.
À Presidência contou com um apoio maciço da Nação,num incontestável tributo histórico, a sua reconhecida figura do estadista.
Feito "18 do Forte", consagrou, indelevelmente, em auto-determinação cívica, valores mais elevados de brasileiro e militar.
Por tudo isto e muito mais, nesta hora triste com soar de despedida, o Toque de Silêncio, na eternidade dos grandes dentre os maiores, o exemplo e sua destinação de cabedais tão prósperos, fê-lo e o faz homem de seu tempo, de sonhos e saudades tão grandes, do tamanho do Brasil.
Muito obrigado."